O que bebês russos, croatas e nigerianos têm em comum? No que diz respeito ao desenvolvimento lingüístico,tudo. Isso porque qualquer criança passa pelo mesmo processo de desenvolvimento da linguagem e de comunicação. Mas o que define a maneira com que interpretamos os códigos? Se passamos todos pelo mesmo desenvolvimento, sem exceções, o que explicaria a expressão individual dos chamados "disléxicos"?
Esses questionamentos instigaram educadores a buscar a resposta na genética. Mais precisamente, iniciados nos anos 60, por um lingüista chamado Chomsky, os estudos revelavam que a capacidade lingüística seria, de fato, genética. Além disso, tinha-se a hipótese de que todo ser humano já nasceria com uma gramática universal, moldada para a linguagem humana. Certo! Ou quase... Chomsky não atentou ao fato de que existem fatores importantes no desenvolvimento da linguagem, adquiridos com o contato à língua materna.
Já nos anos 90, descobriu-se um gene relacionado à linguagem. Em um trecho do cromossomo 7, lá está ele: o querido e estimado gene FOXP2.
O que poucos comentam sobre ele é que ele tem o potencial de alterar a produção de vários outros genes. (Tá bom, mas e daí?) E daí que isso pode gerar alguns problemas na habilidade de linguagem. É aí que entra a resposta à pergunta sobre os quadros de dislexia.
A linguagem falada normal necessita de duas cópias funcionais do FOXP2. Na ausência dessa cópia pode-se gerar um "distúrbio" cognitivo. E mais: estudos feitos com chimpanzés sugerem que este gene foi alvo da seleção evolutiva do homem.
Mas se você acha que este é o único gene que comanda a linguagem, você errou. Eleonora Cavalcante Albano, pesquisadora do Laboratório de Fonética e Psicolingüística (Lafape) da Unicamp, defende que "o gene que traz uma inovação altera uma série de condutas. Seria um salto grande demais" se o complexo arcabouço da linguagem fosse restrito ao FOXP2.
Enfim, o fato é que a linguagem está atreladíssima à genética. Uma família britânica, denominada KE, nos anos 90, estarreceu o mundo científico com o seguinte fato: metade dos KE apresentava problemas de dispraxia verbal de desenvolvimento. Esse distúrbio provoca dificuldade de articulação e percepção dos sons da fala. Por acaso é que não seria. Uma das explicações cabíveis é que não tenha havido a cópia funcional, mencionada lá em cima.
Agora, se você leu este texto... Foi por causa, também, do FOXP2!
...E então, se convenceu de que já nasceu com aptidões lingüísticas?
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