quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ai, que Macunaíma!

"No fundo do mato-virgem, nasceu Macunaíma. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande: escutando o murmurejo do Uraricoera que a índia tapanhumas pariu uma criança feia, chamada Macunaíma. Já na meninice, fez coisas de sarapantar; de primeiro, passou mais de seis anos não falando... E si o incitavam a falar exclamava:
- Ai! Que preguiça!..."


Uns mais, outros menos, todos nós temos nossos dias de Macunaíma. O que poucos sabem é que essa preguiça possa ter explicações genéticas. Mas se você acha que arranjou uma desculpa para faltar à academia, tire o cavalinho da chuva: Tim Lightfoot, um dos pesquisadores da preguiça, afirma que a genética só se responsabiliza por 84% de sua capacidade física.

O estudo foi realizado em ratinhos, que têm cerca de 95% de genes em comum com os homens. Foi analisado o ócio dos roedores e, segundo Tim, em entrevista à Época, "enquanto alguns camundongos corriam de 10 a 15km por dia, outros entupiam suas rodas de corrida com serragem, para fugir dos exercícios...".

Como temos (gene pra burro) cerca de 35 mil genes, observou-se apenas quais genes em comum eram ativados por duas pessoas que se exercitavam. Separou-se, portanto, o grupo de genes que trabalhavam durante as atividades físicas e e identificou-se 17 “lugares” que determinavam a quantidade de exercícios feitos. E voilá: os estudos, merecedores de admiração, indicaram a existência de um fator genético à preguiça.

Inevitável: aparecerão chás de mil ervas e zilhões de medicamentos para curar a preguiça... Ao invés de entupir nosso organismo de remédios, por que não podemos apostar nos 16% sobre os quais os genes não atuam? Deixar o carro na garagem e dar uma boa caminhada talvez também seja um excelente remédio...

Voltando ao Macunaíma... T

alvez a preguiça de nosso herói sem caráter seja herança da índia tapanhumas... Quem diria, Andrade!



Fontes:

http://tinyurl.com/4fyual
(Revista Época)

http://tinyurl.com/28y55rt
(Sobre o Tim L.)

Trecho do Livro Macunaíma, de Mario de Andrade

Captura do filme "Macunaíma" (1969)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As crianças já se comunicam muito antes de saberem falar. Não acredita?

O que bebês russos, croatas e nigerianos têm em comum? No que diz respeito ao desenvolvimento lingüístico,tudo. Isso porque qualquer criança passa pelo mesmo processo de desenvolvimento da linguagem e de comunicação. Mas o que define a maneira com que interpretamos os códigos? Se passamos todos pelo mesmo desenvolvimento, sem exceções, o que explicaria a expressão individual dos chamados "disléxicos"?

Esses questionamentos instigaram educadores a buscar a resposta na genética. Mais precisamente, iniciados nos anos 60, por um lingüista chamado Chomsky, os estudos revelavam que a capacidade lingüística seria, de fato, genética. Além disso, tinha-se a hipótese de que todo ser humano já nasceria com uma gramática universal, moldada para a linguagem humana. Certo! Ou quase... Chomsky não atentou ao fato de que existem fatores importantes no desenvolvimento da linguagem, adquiridos com o contato à língua materna.

Já nos anos 90, descobriu-se um gene relacionado à linguagem. Em um trecho do cromossomo 7, lá está ele: o querido e estimado gene FOXP2.

O que poucos comentam sobre ele é que ele tem o potencial de alterar a produção de vários outros genes. (Tá bom, mas e daí?) E daí que isso pode gerar alguns problemas na habilidade de linguagem. É aí que entra a resposta à pergunta sobre os quadros de dislexia.

A linguagem falada normal necessita de duas cópias funcionais do FOXP2. Na ausência dessa cópia pode-se gerar um "distúrbio" cognitivo. E mais: estudos feitos com chimpanzés sugerem que este gene foi alvo da seleção evolutiva do homem.

Mas se você acha que este é o único gene que comanda a linguagem, você errou. Eleonora Cavalcante Albano, pesquisadora do Laboratório de Fonética e Psicolingüística (Lafape) da Unicamp, defende que "o gene que traz uma inovação altera uma série de condutas. Seria um salto grande demais" se o complexo arcabouço da linguagem fosse restrito ao FOXP2.

Enfim, o fato é que a linguagem está atreladíssima à genética. Uma família britânica, denominada KE, nos anos 90, estarreceu o mundo científico com o seguinte fato: metade dos KE apresentava problemas de dispraxia verbal de desenvolvimento. Esse distúrbio provoca dificuldade de articulação e percepção dos sons da fala. Por acaso é que não seria. Uma das explicações cabíveis é que não tenha havido a cópia funcional, mencionada lá em cima.

Agora, se você leu este texto... Foi por causa, também, do FOXP2!

...E então, se convenceu de que já nasceu com aptidões lingüísticas?




Fontes/ Referências:

http://tinyurl.com/33ktphc
(Sobre Como a Genética Explica a Linguagem da Criança)

http://tinyurl.com/32cmb8j
(Blog, interessantíssimo, aliás, chamado Evolução & Desenvolvimento)

http://tinyurl.com/ydntfgj
(O Estadão - Gene como a chave da Evolução da Fala)



O temível Monstro Monotarefa


Elis Regina ou Maysa, Bossa Nova ou música de protesto, doce ou salgado. Por que tudo tem de ser pintado de preto ou branco?

Qualquer cor que destoe dessas duas (ok, chatos de plantão, sei que "preto" não é cor.) é vista como estranha. Não me esqueço dos olhares de indignação de meus amigos quando dizia que estava entre prestar Biologia ou Letras.
"São áreas completamente distintas!"

Querelas à parte, eu resolvi que, independente de minha decisão acadêmica, eu faria questão de manter interesse pela Biologia, História, Física, ou o que viesse à telha. E decidi enfrentar bravamente (óóóóh!) o Monstro Monotarefa para demonstrar que assuntos distintos e aparentemente sem ligação podem ser conciliados.

E é justamente essa a intenção do LinguaGen: esticar a relação entre diversos assuntos ligados à linguagem (verbal, não verbal e etc).

Então, vamos juntos salvar o mundo (das cáries) do Monstro Monotarefa?!


Agradecimentos:
Marcia Sacay

PS (sobre caricaturas do layout): Procurei manter as assinaturas, no entanto, a maioria está sem autoria... Vou adicionando nomes, conforme descubro de quem são! rsrs